quarta-feira, 31 de outubro de 2012

A redação vencedora (Categoria Ensino Médio)

Atendendo aos reiterados pedidos, estamos publicando aqui no blog os textos integrais das redações que venceram o 1º Concurso de Redação Compare e Floresta de apoio à Cultura 2012.
Aqui segue a redação de Jefferson Rhuan Gomes Almeida, vencedor na Categoria Ensino Médio (prêmio: 1 laptop)
Parabéns, Jefferson.
- Não fizemos correções e colocamos o texto na íntegra para não alterar a marca autoral.




Natiel Valgueiro, um florestano na II Guerra Mundial

Candidato vencedor da melhor redação na categoria Aluno do Ensino Médio


    Valorizar o lugar que nascemos é sempre importante. Falar de minha cidade, Floresta, é fácil, principalmente porque somos pessoas de garra, ricos de coragem, simplicidade e acima de tudo fortes por natureza. Como já dizia o grande escritor Euclides da Cunha, “O sertanejo é antes de tudo um forte”.
     Sempre fui fascinado em ouvir relatos de experiências dos mais velhos, seus depoimentos são fontes preciosas, a História passa a ser contada por alguém real, alguém que viveu aqueles acontecimentos, por isso é fundamental preservar essas memórias, esses testemunhos.
     Tenho admiração especial por um florestano, ex-combatente da Segunda Guerra Mundial, o Sr.Natiel Valgueiro Barros, pessoa simples, sincera, brincalhona que não se negou em nenhum momento a responder meus questionamentos , um personagem interessante.
    “Pelos idos de 1926, com apenas cinco anos de idade, passei uma infância agitada, na fazenda  Juá, onde presenciei um ataque sofrido pela minha família. Nesse dia, os revoltosos, que eram homens bem armados, saquearam a casa da família e espalharam terror. Esse grupo era intitulado Coluna Prestes( chefiados por Carlos Prestes, protestavam contra as ações dos governantes e o coronelismo). Passamos mal bocados naquele dia”, conta seu Natiel. Aqueles fatos o marcaram profundamente. Como também sua descoberta dos livros.
    “Meu primeiro contato com os livros foi através de minha mãe, que já era viúva, e nos alfabetizava através de cartilhas, encomendadas aos vendedores viajantes que por lá passavam com mercadorias diversas”, conta ele.
    “Recordo-me que vim para a cidade aos 11 anos. Passei a frequentar o Grupo Escolar Júlio de Melo, e morava na casa do tio Nestor, irmão de meu pai. Ele foi um homem de muita influência política, se destacou no cenário da educação, pois utilizava seu salário pagando professores itinerantes para alfabetizar as crianças pobres da zona rural. Recebeu a merecida homenagem como patrono da Escola Capitão Nestor Valgueiro de Carvalho”, recorda.
    “Com o passar dos anos, fui morar em Petrolândia e nesta época aprendi a datilografar com precisão. Descobri que em Recife tinha sido aberto um curso para escrivão da Coletoria do Estado e também um concurso para escrivão do Banco do Brasil. Porém, para exercer a função, teria que servir seis meses a um ano nas Forças Armadas”, lembra ele.
  “Então, parti para Recife. No local que estava hospedado, um amigo me falou que tinha alistamento. Pensei: “fico seis meses e depois saio com a carteira de reservista”.
   E assim fiz. Ingressei no Exército, fiz um curso de cabo, e com seis meses já havia assumido o cargo”, relembra.
   “O mundo estava em guerra. E agora? O Brasil tinha alianças com alguns países e o presidente Getúlio Vargas só estava esperando o chamado dos Aliados para o Brasil entrar na guerra também.
    O grande dia chegou! Não esperava a notícia, mas quando me contaram, não fiquei assustado. Sabia que tinha que cumprir o meu dever como brasileiro.Era um simples florestano, mas acima de tudo, amava o meu país.
     Assim como eu, outros florestanos também foram convocados, porém em regimentos diferentes”, comenta.
    “Saímos do Recife para o Rio de Janeiro em um navio brasileiro, desconfortável. Em seguida, embarcamos num navio da Marinha norte- americana, rumo a Nápoles na Itália, percorrendo o Oceano Atlântico em 24 dias.
    Na Itália, fui para o acampamento, onde o superior mostrou armas americanas totalmente desconhecidas para mim: rifles, metralhadoras, fuzis, munições de vários tipos. Trabalhava um dia e folgava dois. Nos dias de folga passeava pela cidade. Foi num desses passeios que visitei a cidade de Pompéia, soterrada pelo vulcão Vesúvio, no ano de 69. Comprei o bilhete com a parte do salário que me era destinado, pois as outras duas partes se dividiam: uma era depositada no Banco do Brasil, esperando minha volta e a outra era depositada na conta da esposa. Como muitos não eram casados, ficava com a mãe.
    Passei momentos difíceis, em lugares onde a temperatura atingia abaixo de O°C. Em relação à alimentação, também não era das melhores, chegava de países diferentes. Vinha do Brasil feijão, arroz, carne e farinha de mandioca, para as refeições do dia de descanso. Dos Estados Unidos chegava uma ração enlatada que era servida nos campos de batalha.
   Até esse momento participava do 11° Regimento de Infantaria, mas fui convocado a substituir um sargento morto na batalha de Montese. Acompanhei combates pequenos. Algum tempo depois fui incorporado a esse mesmo regimento.
   Parecia que o tempo não passava, foram seis longos meses em solo italiano. Nos últimos momentos de confronto, fizemos uma emboscada e prendemos milhares de homens da divisão alemã. Como não havia carro suficiente para o transporte, andamos cerca de cem quilômetros por dia. O último combate estava previsto para ocorrer a noite,no entanto os alemães se entregaram e a guerra acabou exatamente quando estávamos em cima dos Alpes.
   Que alegria! A guerra acabou! Finalmente poderia voltar para o aconchego do meu lar!
     Chegando ao Brasil recebemos muitas homenagens, dentre elas, condecoração, dada por Getúlio Vargas”, lembra o velho combatente.
    Hoje, com quase 91 anos de idade, o senhor Natiel mora com sua filha, a professora Clara, uma pessoa muito dedicada ao seu pai, sempre presente em sua vida.
     Da guerra, ele guarda recordações tristes de destruição, desrespeito ao patrimônio e a vida do ser humano( lembra, com felicidade, não ter matado ninguém) . Mas por outro lado teve oportunidades de conhecer lugares nunca antes imaginados, e experiências fortes que transformaram sua visão de mundo.